O comércio eletrônico no Brasil ganha, a partir desta quarta-feira, um novo concorrente. A plataforma chinesa TikTok anunciou hoje a liberação no mercado brasileiro do recurso de compra a partir de vídeos. Chamada de TikTok Shop, a ferramenta fica integrada aos perfis dos usuários, que podem comprar produtos a partir de vídeos, da página de influenciadores e de transmissões ao vivo.
Lançado pela primeira vez em mercados do Sudeste Asiático, em 2021, a funcionalidade funciona em outros doze países, incluindo EUA, México, Espanha, Reino Unido e França. Em 2024, a ferramenta gerou cerca de US$ 9 bilhões em volume bruto de mercadorias (GMV) somente no mercado americano, em um impulso ao chamado “social commerce”, experiência que integra as redes sociais com as compras.
No Brasil, a disponibilidade do sistema será feita de forma gradual, ao longo das próximas semanas, para todos os usuários. As entregas vão acontecer em todas as cidades do país, segundo o TikTok. Neste primeiro momento, a plataforma irá incluir venda de produtos de beleza e saúde, moda, casa e decoração, eletrônicos e esportes. Ao longo do ano, mais categorias serão incluídas.
Três das quatro principais funcionalidades do TikTok Shop começam a ser ativadas no Brasil a partir desta quarta-feira. A principal é a que adiciona um botão de compra nos vídeos em que influenciadores, marcas ou criadores de conteúdo anunciam produtos. Há ainda o “live shopping”, que integra transmissões ao vivo com ofertas em tempo real e uma “vitrine” nos perfis de criadores, em que ficarão expostos os itens anunciados por eles.
Concorrência acirrada
Nos próximos meses, a plataforma também irá abrir uma quarta funcionalidade, que é a aba “Loja”, em que os anúncios de produtos vão ser exibidos no aplicativo. O recurso é semelhante ao de e-commerces tradicionais, com fotos de produtos, aba de buscas, destaque para ofertas do dia e filtros por categoria de produtos.
Uma dos maiores mercados do TikTok no mundo, o Brasil tem 91,7 milhões de usuários da rede social, atrás apenas dos Estados Unidos (135,8 milhões) e da Indonésia (107,7 milhões), segundo a consultoria de dados Statista. O lançamento do TikTok Shop no país já era esperado para este ano, mas a expectativa inicial era que acontecesse apenas no fim de 2025. A expansão faz parte da estratégia da ByteDance, controladora do aplicativo, de acelerar a presença na América Latina.
Em relatório de março, analistas do banco Santander avaliaram que a entrada antecipada do TikTok Shop no Brasil representava um movimento estratégico da empresa para capturar o maior mercado de e-commerce da América Latina. Para o banco, marcas como Natura, Renner e C&A tendem a se beneficiar.
A expectativa dos analistas é que a plataforma adote no Brasil estratégias agressivas nesse lançamento, semelhantes às implementadas no México, entre elas 90 dias sem cobrança de comissão e frete gratuito. Empresas menos preparadas podem perder espaço em meio à nova dinâmica, avaliam. Segundo o relatório, “há urgência para que o varejo brasileiro desenvolva estratégias específicas para o TikTok Shop, diante de um cenário potencialmente disruptivo”.
Como funciona o TikTok Shop
A proposta do TikTok Shop é integrar entretenimento e compras, criando uma “jornada de descoberta e de compras”, afirmou a plataforma, em nota. Nos vídeos com venda de produtos, uma pequena tarja será exibida no canto lateral esquerdo com o nome do item e o símbolo de uma cesta de compras.
Ao clicar no produto, o usuário é redirecionado para concluir a transação. Na primeira compra, será necessário preencher os dados pessoais e de entrega. A partir da segunda, o sistema armazena as informações e exige poucos toques até finalizar a compra.
A entrega dos produtos foi feita a partir de parceiros logísticos do TikTok. O armazenamento e a separação dos pedidos são responsabilidade dos próprios vendedores, já que o Brasil ainda não contará, neste primeiro momento, com uma operação logística própria do TikTok — modelo que já existe em outros países sob o nome “Fulfilled by TikTok”, em que a plataforma opera com galpões.
Entre as marcas já presentes na plataforma estão Natura, Boticário, L’Oréal, Stanley, C&A e Riachuelo. Segundo o TikTok, todos os vendedores cadastrados nesta fase inicial são brasileiros, com CNPJ ativo e operação nacional. Em outros mercados, entretanto, a plataforma opera com um modelo de cross-border, permitindo que consumidores comprem produtos de vendedores estrangeiros.
Quem pode vender (e anunciar)
Para fazer o anúncio de produtos de terceiros, o influenciador ou criador de conteúdo precisa ter mais de 18 anos, pelo menos 5 mil seguidores, ter postado algum conteúdo na plataforma nos últimos 180 dias e aceitar os termos do TikTok Shop.
Existem dois modelos de afiliação. No modo chamado de “Colaboração Aberta”, qualquer criador cadastrado pode acessar os produtos marcados como disponíveis por marcas e vendedores, e produzir conteúdos por conta própria. Os vídeos, então, terão a tarja de compra.
Caso o influenciador promova vendas a partir de seus vídeos, ele recebe uma comissão que é definida pela marca. A taxa, de acordo com o TikTok, começa com 1% e é definida pelos vendedores. Na configuração padrão, todos os produtos disponibilizados são automaticamente incluídos na opção de “Colaboração Aberta”, o que permite que qualquer criador os divulgue. As marcas, no entanto, podem desabilitar a opção ou selecionar os itens que desejam disponibilizar.
O outro modelo de anúncio e venda é chamado de “Colaboração Direcionada”. Nele, as marcas escolhem com quais criadores querem trabalhar, definem quais produtos serão promovidos e estabelecem uma remuneração personalizada. Em todos os casos, o TikTok recebe um percentual pela venda. A plataforma não informou qual o valor da comissão, que é fixa para todos os vendedores, mas varia de acordo com país. Segundo a rede social, no entanto, o valor fica “abaixo dos concorrentes do e-commerce”.
Para abrir uma loja e vender diretamente, o usuário terá que ter um CNPJ e passar por um processo de verificação que leva de um a três dias úteis. Empresas podem registrar até cinco contas comerciais, e vendedores individuais também são aceitos, desde que maiores de 18 anos. As formas de pagamento disponíveis incluem cartão de crédito, débito, Pix e boleto bancário. No primeiro momento, as compras não podem ser parceladas, mas a opção será incluída no futuro.
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Por: Folha de Pernambuco
Via: Orobó FM, Eraldo Albuquerque
Publicado em: Quinta-feira, 08 de maio de 2025 – 11h55
Foto: Antonin UTZ/AFP